Da morte de meu avô Moisés

            No dia 08 de Janeiro último, fez 50 anos da morte de meu avô paterno, o Sr. Moisés Rodrigues. Homem que não tive o privilégio de conhecer em vida. Mas suas ações, seus feitos, seus conceitos, história e fé ecoaram com tanta força, que permearam a minha vida, minha existência, minhas convicções e aspirações de tal forma que pareço conhecê-lo (ao menos reconhecê-lo) intimamente. Triste é que eu o conheço como que por reflexo daquilo que ele foi. Pos o conheço indiretamente, através daqueles que por ele foram impactados. Ou através de seus feitos espalhados por este Brasil. Mas apesar disto, não consigo me sentir triste, e sim orgulhoso, privilegiado ao ser tocado por este legado que permanece e fala, ecoando em alta voz. Voz esta que reconheço  por suas testemunhas e  por seu legado que reverbera de forma vívida em meu interior. Segue abaixo Publicação em jornal da época, por ocasião de seu falecimento.

Dr. Ivan Vargas Rodrigues

São Paulo, 28 de Fevereiro de 1969 (O Estandarte)

Moisés – O Construtor

Carlos Rene Egg

            Quarta feira, 8 de Janeiro de 1969, 12 horas, liguei para o Hospital da Lapa, Capital de S. Paulo mantendo com a telefonista do PBX o seguinte diálogo:

            – Srta, por favor, pode ligar para a enfermeira-chefe do 3.o andar?

            – Qual o quarto e o nome do paciente? Indagou ela.

            – Quarto 312, Moisés Rodrigues, respondi.

            – Sinto informar que ele faleceu hoje, às 9,15 horas e seu corpo vai ser levado logo mais para Osasco.

            Fiquei por momentos aturdido, como se houvesse recebido violenta pancada na cabeça. Não era possível!

            O meu grande amigo e companheiro de tantos anos, fiel nas lides de Umpismo, desde 1942, baqueava assim tão brutalmente, derrubado por uma doença, que, se não for identificada logo, acaba matando a criatura e foi justamente o que aconteceu com o nosso Moisés.

            Nasceu a 12 de Maio de 1922, em Pôrto Feliz, filho de Elcy Rodrigues e Delfina Maciel Rodrigues, falecidos.

            Casou-se com Jair (Branca) Henrique da Costa, a 4 de Maio de 1946, de cujo casamento nasceram-lhes 8 filhos, dos quais 7 vivos: Carlos René, Ivan, Vera Lúcia, Ruben, Moisés Jr, Loide Jane e Nelson Antonio, o primogênito com 21 anos e o último com 7 anos.

            Moisés era um gerador de energias. Dinâmico, jovial, fazia tudo a jato, vivendo intensamente.

            Como mestre de obras, construtor, em 1951 saiu de Porto Feliz com seu irmão Otoniel, esposa e filhos, acantonado no velho prédio do Seminário da rua Visconde de Ouro Preto, para a reforma. Trouxe uma equipe de operários e a reforma foi feita por um preço de milagre. As esposas preparavam as refeições de todos. Trabalho admirável e de amor à Causa.

            Branca, a esposa, sempre identificada com as tarefas do marido!

            Depois, Sorocaba, onde foram residir, em casa de Betel, para a construção do Pavilhão <<Cornélia Fernandes Franco>>, de 1953-1957, inaugurando a 1.o de maio de 1957.

            O templo da Igreja Metodista de Sorocaba, também foi construído sob sua administração.

            O templo da IPI de Votorantin teve a sua participação direta.

            A 5.a IPI de São Paulo (Osasco), hoje 1.a Igreja de Osasco, contou com a sua ação pessoal.

            O prédio da Faculdade de Teologia da IPI do Brasil também teve a mão de Moisés, que residiu com a família no canteiro de obras, administrando-a.

            Por carta e pessoalmente era consultado sobre construção de templos e casas pastorais. Visitou muitas igrejas para examinar obras e dar seus conselhos.

            Entrou pelo sertão da pátria e com a família viajou em fevereiro de 1960 para Dourados, onde esteve por quase 8 meses, dando início à construção do Hospital-Maternidade <<Porta da Esperança>>, Missão Caiuá, inaugurando em 1.o de março de 1963. Não fosse enfermidade da esposa Branca, e teriam ficado lá até o fim da construção.

Deixou saudade entre os índios!

            Em Porto Feliz e Sorocaba foi diácono e quando da construção do moderno templo de Osasco, para ali se transferiu, radicando-se no local, onde construiu uma casa. Foi eleito presbítero da 5.a IPI.

            Até então só pensava nos outros. Deus o abençoou e a sua casa foi edificada.

            Dotado da bela voz de baixo, onde chegava, integrava-se nos conjuntos corais. Branca, mulher inteligente, com vocação poética, aprendeu a tocar acordeão.

            Em Osasco, com Wilson Rabelo e esposa, Moisés e esposa formavam um lindo quarteto. O Rev. Orlando Ferraz, jubilado que carregava pedras acompanhava o quarteto para as mensagens, cuja abençoada atividade se fez  em dezenas de Igrejas de São Paulo e interior

            Muita gente pobre recebeu os benefícios desse dínamo humano, cujo coração era maior do que o do comum dos homens. Arranjava material, arrumava quem desse horas de serviço e por isso, muita gente chorou a partida súbita desse homem de Deus.

            Ele realmente viveu 80 anos nos quarenta e seis que viveu aqui!

            Por uma coincidência interessante, há alguns anos passou a trabalhar para a firma C. F. Franco Engenharia dos irmãos Drs. Clóvis e Carlos Fernandes Franco, presbíteros, os mesmos que planejaram e orientaram a construção em Bétel (1953-1957) e a sua tarefa agora, como técnico de confiança, era fiscalizar obras no interior. Nessa tarefa importante, foi ao Território de Rondônia, onde se constrói grande ponte, lugar onde adquiriu a malária.

            Em São Paulo, últimos dias de novembro, sentiu-se enfermo e dois médicos diagnosticaram gripe <<Hong-Kong>>. Piorou e foi para o Hospital.

            Dias depois, quando atinaram com a malária, o nosso Moisés estava inconsciente e com irreversível intoxicação, à qual não resistiu.

            Em 12 dias estava liquidado!

            O seu corpo foi levado para a capela 1.a IPI de Osasco, onde centenas de pessoas foram dar ao nosso saudoso companheiro e seu último adeus.

            Dezoito pastores estiveram presentes, inclusive o Presidente do Supremo Concílio da Nossa Igreja, Rev. Daily Resende França.

            Na noite do falecimento, no culto especial, pregou Rev. Orlando Ferraz tocante mensagem de conforto e gratidão.

            Outros companheiros falaram.

            No dia seguinte, presidiu o ofício fúnebre o pastor da Igreja, Rev. Walter Guise, falando o Rev. João Euclides Pereira.

            O Presbitério de Osasco deu ao seu Instituto Bíblico a denominação de <<Moisés Rodrigues>>.

            Em Betel desde 1957 há o Pavilhão <<Moisés Rodrigues>>, destinado a desportistas, como homenagem ao construtor.

            Aí fica, saudosa e conformada, a Branca, esposa e companheira fiel em todas as batalhas, sofrendo a ausência do marido, mas certa do encontro no dia marcado pelo Senhor!

           O meu xará, Carlos René, ao lado dos 6 irmãozinhos assume, diante de Deus e dos homens, o lugar do pai.

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