Quando começamos a falar sobre a África e o Sumba, é preciso entender o que me levou a chegar lá. E aqui tenho que fazer uma pausa na história e contar um pouco de um dos meus maiores e mais importantes influenciadores: O meu querido avô.
É bem verdade que todos os avós ocupam um espaço no imaginário de uma criança. Aquele herói, amigo, que brinca com a gente, que dá risadas e está sempre lá tentando nos alegrar. Mas sou obrigado a dizer que meu avô era o melhor avô do mundo! O Seu José, como era conhecido de todos, sempre foi uma pessoa cativante, um líder nato, influenciador em todos os sentidos. Um homem de um coração enorme, admirado por simplesmente todos que o conheciam. E um excelente contador de histórias… ai que saudade que dá.
Em minhas primeiras memórias de infância ele já está lá. Apesar de sempre morarmos longe dos meus avós, por conta do trabalho dos meus pais, Meu avô sempre se esforçava por estar junto. E todos os anos, aguardávamos ansiosamente pelas férias escolares, não só pela pausa nas aulas, que toda criança adora, mas porque era a época que podíamos visitar demoradamente meus avós. Ahhh.. e na casa dele, nós podíamos tudo! Ele tinha, como todos os heróis, super-poderes. E um deles era a incrível habilidade da transformação: ele transformava qualquer coisa, por mais simples que fosse, na coisa mais legal e empolgante do mundo! Uma volta de fusca para ir até a padaria comprar pão era como um passeio em uma viagem ao desconhecido dentro da Nautilus do capitão Nemo! Era uma aventura inesquecível e empolgante!
Lembro até hoje que, quando chegávamos ao comércio que meu vô tinha, ele dava dinheiro para os netos para que comprássemos doce no bar do Seu Alfredo. Como era legal aquilo! Nos deliciávamos com as mais primorosas porcarias gastronômicas como se estivéssemos em um banquete real.
Então, à noite, todos os netos se apinhavam para ouvir um pouco das incríveis histórias da infância dele. Melhor que qualquer filme! Tinha suspense, drama, e muita, muita risada. Saíamos impressionados e querendo ser iguais a ele. Hoje vejo que todas as suas histórias eram permeadas de conceitos e condutas. E ali ele desde cedo nos ensinava e nos doutrinava em compaixão, em ética, em coragem. Nos ensinando a enfrentar nossos medos, nos incentivando a sonhar. Tudo era possível com meu avô. E ele era tão fantástico, que todos nós tínhamos um único medo: desapontá-lo. Não porque ele nos repreenderia, mas porque queríamos sempre estar em alta conta com o nosso herói supremo.
Outro super-poder era o de sonhar. Em muitos momentos da minha vida, inclusive adulta, eu sempre tive nele, alguém com quem conversar. Um verdadeiro amigo, mesmo com a enorme diferença de idade. Seja lá o que ele estivesse fazendo (e ele sempre estava fazendo algo), ele parava para me ouvir, dar idéias, montar os mais altos castelos. Mesmo que fossem castelos de areia, mesmo que nós nunca fôssemos fazer aquilo. Ele nunca me desanimava, e sempre achava uma solução fantástica de como realizar o meu sonho.
Não acho que por acaso seu nome tenha sido José. Assim como um dos patriarcas o José do Egito, foi conhecido por seus sonhos e incrível capacidade administrativa e realizadora, Meu avô, José Vargas, atravessou seu próprio deserto, sua própria perseguição e dificuldade. Mas nunca, nunca perdeu a doçura nem a capacidade de sonhar. E com seu trabalho e diligência, recebeu o merecido reconhecimento dos que o cercavam. E com isto pôde ajudar a muitos com sustento e recursos durante toda a sua vida. Na verdade até o último de seus dias nesta terra.