Quem é o Dr. Ivan – parte 1

            Por algum tempo eu fiquei me perguntando: Como contar esta história? E como as pessoas vão entender o por quê de eu ir parar na África. O que me motivou ir lá?

            Tenho que confessar que por um bom tempo, nem para mim, isto foi muito claro. Muitos dos meus colegas me acusaram de ser louco. E pra falar a verdade, cada vez mais sou obrigado a concordar com eles. Mas o fato é que os meus melhores amigos, as pessoas que eu sempre admirei, nunca se ajustaram a este mundo… então porque eu deveria? Sendo assim, gostaria de contar um pouco sobre mim. E talvez fique mais fácil de entender.

            Como todos nós, eu sou consequência da história e do legado daqueles que me antecederam. E estas histórias, estas experiências nos moldam em nossas convicções e em nosso caráter. Em última análise, são o substrato que nos tornam quem realmente somos.

            E a partir disto, podemos assumir e entender este legado, e portanto nos alinharmos com nossa história e cultura, e assim sermos felizes ao encontrar o nosso propósito de existência. Ou então podemos negar todo o nosso passado, tudo aquilo que foi impresso em nossos corações e mentes durante as gerações que nos precederam, desprezando as conquistas realizadas por àqueles que nos trouxeram ao aqui e agora.

            O legado de minha familia? Se eu pudesse resumir em poucas palavras seria Romper, Sonhar, teimosia, fazer o impossível porque tem que ser feito e não porque dá para ser feito.

            Por isto, para que eu possa responder adequadamente quem sou eu, é necessário que eu conte um pouco da história daqueles que me precederam:

            Como brasileiro, somos um povo de imigrantes. E por conta de todos os eventos que trouxeram nossos antepassados à esta terra, assim como guerras e fome, fica difícil de rastrear com precisão toda a linha para trás. Mas até aonde eu consigo rastrear, temos histórias pra lá de interessantes. Minha Bisavó paterna, nasceu em Porto Feliz, no interior de São Paulo, em meio a uma família de posses. Mas por ter abraçado o protestantismo como sua forma de fé em Deus, e por ter experimentado um amor divino que marcou seu coração e mudou sua história, em uma época de intensos preconceitos e perseguição religiosa, foi então deserdada de sua família.

            Porém sua fé e devoção à Deus ao longo de sua vida foram tão marcantes que seus irmãos, após a sua morte, reconhecendo a vida de caridade e devoção a Deus, não tiveram coragem de ficar com a sua parte da herança. Separando o dinheiro que seria proporcional a sua parte na herança, construíram então uma capela na entrada da cidade, em sua memória. E esta capela permanece lá até os dias de hoje.

            Ela não apenas realizou ações de caridade, bem como ensinou seus filhos e netos a andarem por este caminho. Estes, por sua vez, constrangidos por seu amor e devoção, seguiram seus passos sendo membros ativos em suas respectivas sociedades, atendendo a todos quantos podiam. Algumas destas histórias são muito bonitas. Já outras, muito divertidas.

            Uma de minhas tias-avós, a Abigail, que era casada com o tio Jetro, sempre foi extremamente caridosa. Era costume da época bordar o nome da pessoa na roupa. E Jetro já não era assim, digamos, um nome comum à época. Pois um dia, meu tio-avô Jetro chegara em casa, e como acontecia frequentemente, havia um morador de rua em sua porta que recebera atendimento de tia Abigail, que havia lhe dado de comer e o que vestir. E o Tio Jetro, entra em casa animado e admirado dizendo: – Olha Abigail, você não vai acreditar! Ele tem o mesmo nome que o meu!

            O que o pobre coitado não sabia é que a camisa que o morador de rua vestia era a sua…

            Este era o legado, o ensinamento que se passou de geração para geração. E seguiu por meus avós paternos, o Seu Moisés e a Dona Branca, que dedicaram as suas vidas a fazer o bem pelo próximo, não apenas como modo de vida, mas também de modo devocional a Deus, como leigos. Eles atuaram como missionários em diversos lugares e sempre tiveram a casa aberta para acolher a todos que precisavam. Mesmo sendo pais de 7 filhos, o que deixa qualquer um com a agenda lotada, eles sempre davam um jeito, e faziam caber mais alguém em casa, dando acolhimento para diversas pessoas ao longo do tempo, pelo tempo que precisassem. Sempre acolhedores, sempre hospitaleiros. Faziam isto, não porque a vida era fácil, ou porque sobravam recursos. Mas porque se recusavam a ver outros sofrer, repartindo o pouco que tinham com quem quer que houvesse necessidade.

            O vô Moisés ficou órfão de Pai e mãe muito cedo. E logo teve que aprender a se virar e trabalhar. Conheceu a dor. Mas ao invés de se render à ela, ou então à revolta e autopiedade, resolveu se dedicar a transformar o ambiente à sua volta, e com todas as forças e capacidade, atuar para que ninguém ao seu alcance sofresse. Meu avô foi, entre outras coisas um excelente construtor. E assim foi reconhecido postumamente, como Moisés, o construtor. A vó Branca, em todos os momentos estava com ele o apoiando, juntos trabalhando em prol de seu propósito de existência, de ajudar a aliviar a dor. Imerso nesta história, entre muitas outras construções, eles participaram da construção do Lar Betel, um orfanato que funcionou por muitos anos em Sorocaba, atendendo a muitas crianças na região. Eu tenho boas lembranças deste local. Pois desde pequeno, eu estive ali com meus pais muitas vezes. Mas isto não é só. tem muito mais para contar.

Dr. Ivan Vargas Rodrigues

Presidente – MSL

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